Ideias desarrumadas, arrumadas ou por desarrumar...
"escrever é arrumar as ideias"

Fernando Pessoa

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Aldeia Global


Aldeia Global
A mais recente campanha publicitária de uma conhecida operadora de telemóveis dá o mote para a minha reflexão desta semana. Aldeia Global,  assim se chama o projeto é mais um excelente trabalho do realizador Marco Martins que já nos habituou à sua qualidade não só no contexto publicitário, mas também em momentos deliciosos no cinema,  como foi o caso de Alice. Esta campanha para além de cumprir o seu objetivo em termos de marketing, é na minha opinião um excelente exemplo do que pode e deve ser a cultura, a tecnologia e a criatividade ao serviço das populações, como fator de desenvolvimento, inovação e principalmente criação de laços de proximidade e desenvolvimento comunitário.
Para além de motivar a população transmontana, que participou num esforço conjunto, este projeto deu a conhecer um pouco da sua cultura, das suas gentes , envolvendo-as e tornando-as no parte integrante do processo criativo, sem renegarem as suas origens e sendo atores no seu quotidiano habitual.  Os honorários reverteram para um almoço convívio entre todos os habitantes e a equipa de produção e para uma instituição local, tendo em vista o beneficio comum.
Casos como o Festival Bons Sons em Tomar e o Materiais Diversos em Alcanena, entre muitos outros espalhados pelo nosso país fora, incluindo na nossa cidade, mostram que o potencial criativo português ao serviço da comunidade  está bem e recomenda-se.  Talvez continuando tenhamos a esperança conjunta de um futuro melhor, numa altura em que tem custado acreditar!


Mãos à obra !


Mãos à obra !
Penso com regularidade nas potencialidades que o Lis e as suas margens poderiam oferecer aos locais e aos que a Leiria se dirigem para passear. Em tempo de calor e férias,  um passeio pelo “ parque de skate “ ou pelo percurso pedestre que liga a zona de São Romão  ao complexo desportivo municipal ,aflige-me. Esta requalificação das margens do rio foi sem dúvida uma obra que veio melhorar a qualidade de vida das pessoas e promover atividades ao ar livre e o estimulo de hábitos de vida saudáveis. O problema neste momento centra-se na sua manutenção e preservação , facilitada sem grande investimento municipal, assim houvesse uma sensibilização para o civismo e gosto pela conservação e fruição dos espaços.  Não é preciso andar muito para encontrarmos bebedouros que não funcionam, iluminação partida voluntariamente, beatas de cigarros por todo o lado, dejetos de animais ( independentemente dos sacos disponibilizados para o efeito), restos de lanches e de pic-nics fortuitos, grafitis desenquadrados, mobiliário urbano degradado, publicidade colada e pregada nas árvores, entre muitas outras mazelas … Se este Verão, a um trabalho continuado do município, aliássemos a consciência cívica de todos nós, o Lis poderia fazer parte do nosso quotidiano, oferecendo-nos as margens para descansar, socializar e desfrutar de momentos de lazer com amigos ou com a família, de forma muito mais atrativa e agradável… Deitemos mãos à obra !

Semear para colher #2


Semear para colher #2
É fulcral, se queremos uma sociedade pautada pela cidadania, cuidar um serviço educativo, que aguce a fruição e interesse cultural, e incuta valores como o saber estar numa sala de espetáculos ou em qualquer situação que vise o respeito pelos artistas e pelo trabalho de quem tenta proporcionar momentos especiais em torno da cultura e das artes. A falta de atitudes cívicas pouco dignas de muitos frequentadores de atividades artísticas e culturais, frustram o trabalho desenvolvido por uns, mas cimentam as certezas para uma formação que deve ser adquirida de tenra idade.
Esta semana queria agradecer ao Teatro José Lúcio da Silva a oportunidade que concedeu aos alunos do Agrupamento de Escolas de Marrazes,  de apresentarem as suas performances e muitos deles contactarem pela primeira vez com um equipamento cultural , acreditando com isso deixar sementes de futuro , que os torne mais atentos a estas temáticas e desculpem atitudes de hoje menos próprias, suas e de seus encarregados de educação, que por não estarem familiarizados com estes espaços, nem sempre adotam as posturas corretas. Mais uma vez pela ausência de um serviço educativo na base da sua formação …
A este propósito, teço também um rasgado elogio aos Fade in e ao seu Ensina Fade in, que o TJLS também acolheu e que têm feito um excelente trabalho de sementeira cultural na nossa cidade! Bem hajam!

# Feiras de Maio


# Feiras de Maio
Há ano escrevi um artigo, intitulado  Hábitos Culturais dos Portugueses, Feiras Medievais e outros que tais…, no qual referia a parca visão estratégica de agentes culturais e poder local das cidades na organização de eventos “franchising”, a que chamo de não-eventos, na senda dos não-lugares de Marc Augé, que num caso ou noutro,  não acrescentam nada aos locais e que não contribuem para deixar marcas nos territórios e para o envolvimento das comunidades.
Relembro hoje esse texto,  depois de uma visita à “nossa” Feira de Maio, que a meu ver este ano é palco de uma intolerável falta de coerência , pouco refletida e estruturada.  Não defendo a sua extinção, não que me faça falta, mas porque faz parte da tradição leiriense e me recorda as bolinhas de serradura, que na infância comprava com os meus pais e irmã, num ritual de Maio.
Este ano, mais que nos últimos,  parece-me que a feira caminha para o marasmo e fracasso. Como em muitas outras questões na cidade deveriam ser pensadas soluções que acrescentem à tradição, rasgos de interesse criativo e modernidade, porque opiniões à parte há sempre nos locais mais potencial criativo e de mudança do que parece à primeira vista.  Podem chamar-me ingénua, mas acredito e defendo que Leiria, tem muito para dar, assim encontre o  seu caminho.Até lá como dizia Séneca "Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir."

Metadança 2012


Metadança 2012
Nas últimas semanas tive o previlégio de trabalhar na preparação do Metadança 2012 com um grupo fantástico. Em comum partilhámos horas tiradas ao sono  e aos tempos de ócio, acrescentadas ao horário de trabalho e muita vontade de fazer acontecer. Na passada semana Leiria dançou e ficou mais bonita fruto da envolvência graciosa de alunos da Escola Superior de Dança de Lisboa em residência artística na cidade, trabalhando como duendes na margem do Lis, junto ao Moinho de Papel, para nos brindar no fim de semana com três momentos idílicos ; da colaboração e amizade de profissionais  de renome no panorama da dança nacional  e da envolvência de quase todas as escolas de dança de Leiria, entre muitos outros parceiros . No Domingo, Dia Mundial da Dança, foram mágicos os sorrisos  e o espírito de camaradagem que se fizeram sentir durante toda a tarde no Mercado Santana, partilhados por bailarinos, fotógrafos, artesãos, profissionais da cultura, sociedade civil e tantos outros que constituíram a imensa moldura humana que se fez notar e cujos momentos especiais vão perdurar durante muito tempo na memória . O que ganham com isso, perguntavam?  De resposta um sorriso e um “ Olha à tua volta! Ganhamos a cidade e a cidade são as pessoas.”  . Alguém me dizia há dias à saída de um espectáculo:  ”Sabes nunca tinha ligado muito à dança e depois de hoje fico seguramente mais disperto”
O que ganhamos com isso, nós os profissionais da cultura? Simples…a sensação de dever cumprido.


Olhar Fotográfico
A máquina fotográfica é um instrumento que ensina a ver o mundo sem máquina fotográfica dizia  Dorothea Lange, uma fotógrafa do século XX que ficou conhecida pelos seus trabalhos na sequência da crise de 1929  .
Terminei há pouco uma formação numa das minhas maiores paixões : a fotografia. Para além de viciante , acredito que fotografar  estimula a criatividade, a sensibilidade estética e altera de forma significativa a nossa  forma de olhar o mundo e os outros, estando atentos a sentimentos, pequenos nadas, apontamentos quotidianos ora marcantes  ora efémeros, sempre na senda do melhor enquadramento e o registo mais fiel do momento. A minha paixão pela imagem, pela estética e pelas artes ensinou-me a observar, a olhar para além do óbvio e a buscar algo mais. Acredito que a sensibilização e o estímulo para estas temáticas contribuam francamente para uma visão mais sensível do mundo, para nos tornar mais humanos  e  menos máquinas, valorizando as emoções. Em pleno século XXI, gostaria que os nossos gestores públicos e governantes reservassem uns minutos diários do seu tempo para dedicar às artes, ou que simplesmente passeassem pela rua procurando captar o melhor momento no mundo que os rodeia, certa  de que seriam pessoas muito mais atentas, sensíveis, tolerantes e humanas , ao invés de se basearem  apenas  em números, equações e teorias matemáticas.
Hoje finalizo com Ansel Adams  remetendo-me ao silêncio  “Quando o mundo se tornar confuso, concentrar-me-ei em fotografias. Quando as imagens se tornarem inadequadas, contentar-me-ei com o silêncio”.


País Nublado


Pais  nublado…
Há pessoas que são como nuvens, desaparecem e o dia fica mais luminoso. Tinha prometido esquivar-me de  falar mais  aqui de políticos e politiquices. Não porque não me interesse,  mas porque cada vez mais me revolta perder tempo a pensar em pessoas que me turvam o sol. Ainda assim,  não consigo evitar partilhar a angústia nublosa que me assolada nos últimos meses. Sempre me considerei uma pessoa positiva, que evita o lado sombrio das coisas e das pessoas, mas confesso que não consigo ver nada de auspicioso neste caminhar para o futuro de um país cujo governo reduz os apoios sociais para combater a fraude, mas não condena os corruptos; resume os orçamentos para a saúde, educação e cultura, devido a desperdícios, mas não se preocupa em encontrá-los; que ao invés de dar o exemplo positivo para o sector privado, põe e dispõe nas regras laborais e as torna injustas e desumanas; que não se preocupa em procurar soluções para o desemprego gritante, nem investe em incutir vontade de excelência… e que passados nove meses de governação,  continua a pedir sacrifícios que não abrem caminho a não ser para  desnorte…”quem não sabe para onde vai chega onde não quer”… diz-se por aí. Enquanto houver pessoas , ideias e projetos interessantes, caminharei  na esperança que um dia se dissipem as nuvens negras de políticos desumanos e neoliberais, deixando o céu limpo para o sol de um país que brilhe justo para todos.